Ovar, 29 de Agosto de 1992.
Tinha chegado a hora e a pirralha queria ver a luz do dia. Por volta das 2h30m, decidiu que eu tinha de acordar pois já não estava satisfeita na grande bolsa de líquido em que foi sendo gerada. Lá me levantei, dei umas voltas pela casa, e voltei novamente para a cama. Não dava mesmo para dormir e chegou a vontade de ir à casa de banho. A carochinha estava impaciente e a mãe achou que ela queria sair naquela hora e vá de se sentar no bidé para a queda não ser tão grande. Santa ignorância! Liguei com a parteira, contei como estava, o que sentia e lá fui até ao Porto para que fosse observada no Hospital da Ordem da Lapa. Seis horas da manhã, o parto já a correr e nada de dilatação para se dar a expulsão. Aguardei que o Sr. Dr. chegasse e às 8.00h já estava a soro. Aí é que foram elas! Se até então não sentia praticamente nada, daí para a frente foi um tal acelerar que nem dava para contar o intervalo de tempo entre cada contracção. Sempre calma e a perguntar o que podia fazer para ajudar, apenas me queixava com fome e sede. As informações eram sempre as mesmas: ainda está demorado, tem pouca dilatação. Eis senão quando, eu pedi para me levarem do quarto porque já não aguentava mais estar a apertar. O Dr. chegou novamente ao pé de mim e foi num ápice que a minha cama chegou à sala de partos. Mudei para a mesa, ainda à moda antiga, e foram só três puxadelas a garrar os joelhos e lá sai a carochinha, às 11h45m, sem dar um pio. Fiquei preocupada, nem sequer a vi, foi logo de imediato para a aspiração, sem que a avó Lucinda a perdesse de vista por um só segundo e sempre a perguntar o que era isto e aquilo que lhe iam fazendo.
E foi assim, que há 18anos, nasceu o meu tesouro e a minha razão de viver e lutar. O tesouro que me deu a maior força do mundo, quando com 13 anos apenas, lhe disse que tinha cancro da mama.
Obrigada filhota, pela força e pelos momentos muito bons que temos vivido juntas.
Parabéns à Lia, à Carla Pedro e ao André Filipe.