Decorria o ano de 2006 e nada fazia prever o que estava para
acontecer. Tudo estava bem, apresentava os meus trabalhos, em público, pela
primeira vez e os planos para fazer um novo curso estavam delineados.
Passaram-se dez anos, de uma fase muito complicada da vida e os planos eram
muitos. Mas, não aconteceu como programado porque me roubaram uma mama.
Um cancro maldito apareceu de mansinho e revirou-me a vida.
Como todas as mulheres, aos 45 anos fui fazer uma mamografia de rastreio, pela
Liga Portuguesa Contra o Cancro. Ainda ponderei em aceder à chamada, visto oito
meses antes, ter feito todos os mesmos exames e nada ter sido diagnosticado,
pois tudo estava bem. Acabei por sair do trabalho à hora que me tinham marcado
e, por um descargo de consciência, lá fui fazer o exame. Entretanto nada me foi
comunicado. Quatro semanas passadas e quando da consulta de genecologia, com o
meu médico habitual, também nada se encontrou de anormal. No dia seguinte,
recebia uma chamada para repetir os exames no edifício da Liga no Porto.
Era uma sexta-feira do mês de Maio e comigo levei os meus
pais. Foi um desabar de emoções e pela primeira vez chorei, porque as dúvidas
eram muitas. No mesmo dia tudo foi feito para diagnosticar o que de pior viria
a acontecer. Duas semanas mais tarde, recebo a informação pelo telefone. “Tem
cancro da mama”, foi como me tivesse caído o céu em cima e nesse mesmo dia
contei à minha filha, que apenas tinha treze anos. Foi a minha maior força. Na
sua inocência de adolescente, deu logo a solução: “ Mãe, tiras a mama fora,
compras uma nova e ficas como uma menina de dezoito anos”. A partir daquele
momento nunca mais pensei no pior e a força de viver foi cada vez maior e as
minhas energias sempre concentradas para o positivismo.
Tudo foi programado, com a ajuda dos amigos, profissionais
de saúde. No dia quatro de Julho, o maldito roubou-me a mama direita e todos os
vinte e oito gânglios linfáticos do braço, porque alguns já estavam contaminados.
A partir daquele dia a minha vida mudou radicalmente e as adaptações tiveram
que ser muitas para que a vida continuasse a ser vivida com alegria.
Seguiram-se os tratamentos de quimioterapia, o cabelo caiu e deu lugar a belíssimos
lenços, gorros, chapéus e tudo o que pudesse embelezar o meu visual.
Como a minha filhota disse, três anos depois lá voltei a ter
uma mama nova e ainda mais bonita. Estes sete anos ensinaram-me muito para que
pudesse ver a vida de uma forma mais positiva, ajudar quem mais precisa e quer,
passar a mensagem de que há vida depois do cancro e que a vida é muito, muito
bonita para não desistir e aproveitar cada momento.
Para todas as mulheres que passaram por tudo isto e que
ainda estão neste momento a lutar contra este bicho, dedico este texto para que
nunca desistam e tenham sempre força para derrotar o maldito e vivam cada
momento, adaptando o dia-a-dia às novas circunstâncias sem perder a alegria de
viver.
4 comentários:
Quem tem a certeza que vale a pena delinear projetos?
Eu não tenho. Imagino, sonho, idealizo... e ás vezes acontece!
Foram-se 10 anos... foi horrível, tanta dor... tanta dúvida e depois compraste uma mama nova como a tua filha te propôs.
e agora em jeito de homenagem poética.
Somos muito mais que uma mama
Procurei confiança e encontrei você
Para nós cada dia é algo novo
Abramos a mente para a confiança
e nada mais importa.
Texto lindo!
Consegui sentir-te nas palavras!!
A vida é mesmo bonita!!! Não podemos desperdiçar nenhum momento que seja!!
Beijo grande e obrigada por cruzares o meu caminho!!
Mt me ajudaste e continuas a fazê-lo!!
Obrigada! É de pessoas como tu, que precisamos no nosso caminho.
Beijinho
Parabéns Lucinda pelo teu lindo texto e pelas tuas palavras de incentivo para todas as amigas que estão a passar por aquilo que passaste.
Obrigada Lucinda.
Bjs
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